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Parte 27

(continuação...)

 

O meu despertador toca no dia a seguir. Dormi que nem uma pedra...

Estou sozinho na cama. Levanto-me calmamente e vou à casa de banho. A Luísa também não está. Procuro pela casa e não a encontro. Volto ao quarto e tenho um papel preso no monitor do centro do computador, que não vi quando acordei. "Fui tomar o pequeno almoço com a minha mãe. Falamos mais logo para combinar o almoço. Beijos". Visto-me, pego na mochila e saio de casa em direcção à Universidade. Durante toda a manhã, esperei por uma mensagem da Luísa, mas ela não mandou nada. Antes de entrar para a última aula, mando-lhe uma sms a confirmar o almoço. A meio da aula ela ainda não tinha visto a mensagem nem respondido, por isso peço ao João para perguntar à Sofia se almoçava connosco. Ela responde que a Luísa não foi às aulas de manhã mas que ela almoça connosco sem problemas. Verifico que ela não está online no Whatsapp e, segundo o João, não está online no Instagram desde ontem, por isso deduzo não foi a redes sociais toda a manhã.

Durante o almoço, comentei com a Sofia que a Luísa ainda não me tinha dito nada. Ela respondeu que ainda não recebeu qualquer mensagem dela naquele dia, mas que eu não me devia preocupar. Se fosse qualquer coisa de grave, certamente que ela me diria. Poucos minutos depois, o meu telefone toca, sinal de sms. Olho para o telefone e vejo "Luísa". Pego no telefone de tal forma rápido que o João se assusta. Leio a mensagem. Continha três frases. "Estou em Lisboa. Ligo-te ao fim do dia. Gosto de ti". Respondo-lhe: "Espero que esteja tudo bem contigo. Passei a manhã preocupado... Gosto muito de ti, também". Alguns segundos depois o telefone toca novamente: "Desculpa. Está tudo bem. Falamos logo. Um beijo.". Pouso o telefone perante o ar expectante do João e da Sofia e digo-lhes que a Luísa está bem, está em Lisboa e liga-me logo à noite.

- Será que se passou alguma coisa com o irmão dela? Ou pior, com a cunhada? - Aventa a Sofia

- A Luísa tem um irmão em Lisboa? - Pergunta o João

- Sim. E a mulher dele está grávida. Não pensei nisso... Espero que não seja nada de grave com eles. Bem lembrado, Sofia. - Respondo

Nem me lembrei dessa possibilidade. Que estupidez da minha parte. Aliviado por ter notícias, passo o resto da tarde muito mais concentrado. Ligam-me do hospital à hora combinada e informam-me que o meu pai apresenta melhoras e que a continuar assim antes do final da semana o retiram do coma induzido. Ligo à Susana, que fica animada com as notícias e depois ao Diogo, que não atende. Ligo à minha mãe, quer me diz que o Diogo está em reunião em Seia com o construtor e digo-lhe que o meu pai está melhor. A chorar de alegria, a minha mãe pergunta-me como tenho passado estes dias. Faço um resumo rápido, deixando de lado a Luísa e desligo ao fim de alguns minutos, pedindo-lhe para ter calma, que vai ficar tudo bem e assegurando-lhe que o meu pai está a recuperar bem e que vai voltar rapidamente e com saúde. Ao jantar, na cantina, sinto-me sozinho, pela primeira vez em muito tempo. Quando chego a casa, ponho Faith No More a tocar. Deito-me na cama trauteando o "Easy". Já não estou habituado a estar sozinho com os meus pensamentos. É uma sensação agridoce, pois ando feliz por estar com a Luísa e por as coisas estarem a correr-me melhor na faculdade, mas estou triste pelo meu pai. Sinto falta da Luísa, de poder falar com ela sobre tudo e sobre nada, de ouvir a sua voz tranquila, de sentir os seus lábios nos meus. Mas só estamos afastados há meia dúzia de horas, não faz sentido. Nisto o telefone toca. É a Luísa...

- Estou, Luísa?

- Olá Tiago. Desculpa não ter dito nada o dia todo.

- Não tem mal. Que se passa?

- Estou em Lisboa. Hoje de manhã fui tomar o pequeno almoço a casa da minha mãe, não estava com ela há muito tempo. Estávamos à mesa a falar e o meu irmão ligou. A Mónica teve um descolamento de placenta e foi de emergência para o hospital. Fomos a correr para Lisboa e passámos o dia sem saber se o meu sobrinho tem de nascer antes do tempo, se está tudo bem com a Mónica e a tentar acalmar o Marco. Não estive tempo nenhum sozinha e não quis falar contigo com toda a gente à volta. Não me parece ser o momento ideal para partilhar que tenho um namorado.

- Podias ter-me mandado uma sms...

- Verdade, mas não sabia muito bem o que te dizer antes de chegar a Lisboa e assim que soube que estava mais ou menos controlado mandei-te uma mensagem. Não fiques aborrecido.

- Não, está tudo bem.

- Há novidades do teu pai?

- Sim. Está a melhorar e a continuar assim antes do final da semana retiram-no do coma induzido.

- Boa! E as coisas em Seia?

- O meu irmão está em reunião com o construtor agora. Deve ligar-me a seguir.

- OK. Estás bem?

- Sim...

- É bom ouvir a tua voz.

- A tua também...

Falamos mais um pouco de tempo e despedimo-nos quando ela tem de ir jantar. Tanto ela como a mãe vão passar a noite na casa do Marco e voltam amanhã ao fim do dia a menos que a Mónica piore até lá. Alinhamos a possibilidade de estarmos juntos, uma vez que não vou a casa este fim de semana por causa do meu pai. Nisto o Diogo telefona.

- Tou mano, tás bom?

- Olá Diogo. Desculpa se incomodei.

- Não, na boa. Saí agora da reunião com o construtor. O Pai?

- O pai está melhor. Segundo o hospital, apresenta melhorias e, se continuar assim, antes do fim de semana retiram-no de coma induzido.

- Ainda bem. Isso são notícias excelentes.

- E a reunião, como correu?

- Temos o gajo agarrado pelos tomates. Se a seguradora recusar pagar a recuperação por causa da falta da barreira, meto-lhe um processo em tribunal em três tempos.

- Mas isso não vai demorar imenso tempo?

- Não, porque eu sei como as coisas funcionam. É assim mano, quando metes um processo contra uma empresa destas, eles querem é despachá-lo, para não ficarem com o nome manchado na praça e poderem continuar a trabalhar. Muitas vezes, a culpa destes acidentes nem é do construtor. É dos capatazes e de outros burros que se esquecem de colocar as barreiras. Ou que nem se dão ao trabalho. E depois acidentes destes acontecem. Era o primeiro dia do pai, provavelmente ele ainda não conhecia a obra e pensou que era uma entrada de uma divisão ou assim.  Eu até posso colocar uma providência cautelar a solicitar o embargo da obra, enquanto o processo não estiver resolvido. Se o tribunal aceitar, a obra pára. O construtor perde um monte de dinheiro, porque tem de continuar a pagar aos funcionários e não pode construir nada. Nesta altura, o advogado deles vai telefonar e perguntar o que é que nós queremos, para chegar a um acordo. Nessa altura, vou dizer que paguem todas as despesas do hospital, a fisioterapia e uma indemnização por danos físicos de 100 mil Euros. O advogado deles vai pensar que eu estou maluco, vai desligar e vai ligar ao construtor. Depois vai ligar de volta a dizer que o meu pedido é ridículo e a oferecer uns dez mil euros. Eu vou chamar-lhe e ao construtor tudo o que puder, sem nunca lhe faltar ao respeito. E vou bater o pé que por menos de cem mil Euros a obra vai permanecer embargada. Ele vai desligar e vai novamente falar com o construtor, que vai gritar muito e vai pedir para despachar o assunto o mais rapidamente possível, porque ele não pode ter a obra parada. Então o advogado vai marcar uma reunião comigo e vai pedir-me para ser razoável, que se formos a tribunal o processo vai-se arrastar muito tempo e que corremos o risco de não recebermos dinheiro nenhum. E eu vou responder que enquanto isso estiver a acontecer, o construtor vai perder muito mais que cem mil euros por a obra estar parada. O advogado vai ficar apertado e vai oferecer-me o dobro. Vinte mil euros. Eu calmamente digo-lhe na hora que não. Ele vai dizer que não está autorizado a dar mais. Eu digo que o problema não é meu e levanto-me para me ir embora. Ele pede para eu não sair ainda e sai da sala, finge que telefona ao construtor e volta para nos oferecer quarenta mil Euros. Eu digo que vou conferenciar com a família. Ligo no dia a seguir e rejeito, porque o valor que o pai recebe anualmente pelos seus trabalhos é maior que esse e não sabemos se ele consegue trabalhar no próximo ano. Não aceitamos menos do que aquilo que ele recebeu em 2019, o último ano "normal". O advogado vai perguntar quanto é que isso e vamos dizer a verdade. Foram setenta mil euros. E apresentamos a declaração da contabilista do pai se o advogado pedir. Ele vai dizer que é muito e vai oferecer qualquer coisa como 50 ou 55 mil. E aí aceitamos. Pode parecer pouco mas se o processo fosse para tribunal, talvez recebêssemos trinta mil daqui a dois ou três anos se corresse bem. É bem bom!

- E achas que isto vai demorar quanto tempo?

- Depende do advogado deles, mas pelo feitio do menino, ele deve querer despachar isto. Um mês ou dois, no máximo. A contrapartida é assinarmos um acordo a dizer que retiramos a queixa e não divulgamos os detalhes do acidente a ninguém. Mas pronto. O pai e a mãe ficam com uma almofada de um ano de receita. Podem fazer as obras ou vender a casa e comprar outra melhor. É com eles. Entretanto, eu vou ficar mais uns dias por aqui. Podemos jantar na sexta os dois?

- Claro que sim, mas eu fico em Coimbra, a acompanhar o pai. Não vou à terra.

- Pois, era nisso que eu estava a pensar. Marca então um restaurante aí para sexta-feira às oito e meia, para comermos qualquer coisa de jeito. OK?

- OK, mano.

- Vá, tenho de ir andando. Beijinhos, mano.

- Beijinho.

Dá jeito ter um irmão advogado e outro médico, nestas situações... Mando uma mensagem com um resumo da conversa à Luísa, que me responde alguns minutos depois agradada com o plano do meu irmão. Acrescenta que ainda não se sabe grande coisa da Mónica. Trocamos algumas mensagens carinhosas e despedimo-nos. Ela manda uma fotografia a dar-me um beijo, por Whatsapp. Eu respondo com uma foto igual e a dizer que tenho saudades dela. Ela vê mas não responde. Concentro-me no Mike Patton e adormeço pouco tempo depois, até ao despertador tocar na manhã seguinte.

(continua...)

 

 

Desocupar...

Ultimamente, tenho sentido necessidade de desocupar a mente. E tenho usado o conto para isso. O Tiago e a Luísa é que vão levar com as culpas.

Existem pessoas de quem gostamos mais. Com quem nos abrimos. A quem chamamos amigos, daqueles amigos à séria e de quem nos orgulhamos de o ser. Este tipo de pessoas, com quem se pode ter conversas abertas acerca de todo o tipo de temas, sejam os bons, sejam os maus, não são nada fáceis de substituir, se por um motivo ou outro deixam de estar presentes. E por substituir, não estou a falar de ter a mesma conversa com B que já tive com A. Há todo um conhecimento anteriormente obtido de parte a parte que permite que, sem se falar ou escrever muita coisa, muita coisa seja dita. Mesmo quando, por este ou aquele motivo, as perdes de vista durante uns meses ou uns anos. Porque em meia hora, retomamos meses ou anos de amizade e a conversa flui como se a última vez que tínhamos falado tinha sido no dia anterior. Ou há meia dúzia de horas.

Um destes fins de semana, um daqueles meus amigos mencionados no parágrafo anterior deu à costa novamente. E fiquei feliz porque deu à costa. Está metido num buraco de tal ordem grande financeiramente que vão ser necessários ao ritmo actual uns 10 anos para sair dele. Por isso veio-me pedir ajuda. Não financeira, que ele sabe que eu não tenho capacidade para tal e mesmo que tivesse, essa ponte já foi queimada no passado, mas sim de consultoria. A pessoa sabe que eu sou um tipo financeiramente regulado, que apenas gasta o que tem e que à conta de alguns bons investimentos apenas paga neste momento a casa onde mora. E por isso sou a pessoa ideal, na cabeça desse meu amigo, para o ajudar a sair do buraco. Em vez de cavar ainda mais fundo, que era o que aconteceria se o tentasse fazer sozinho.

Um destes fins de semana, um daqueles meus amigos mencionados no parágrafo anterior zarpou para outras costas. E fiquei triste. Porque vi nessa despedida premeditação. Não levo a mal que as pessoas se afastem. Não seria a primeira vez que isso acontece. Há momentos que se sobrepõem e há circunstâncias que a isso obrigam. Levo a mal quando usam subterfúgios para meter a culpa nos outros. Fico a pensar o que terei feito para que tal acontecesse. Ou que factores externos poderão ter contribuído para isso. E depois se não sei as respostas, a minha cabeça não pára de pensar no tema.

Vai daí, preciso de desocupar a mente...

 

Parte 26

(continuação...)

 

Saio do duche, seco-me bem e saio da casa de banho nu. Vou ao quarto e visto uns calções e uma t-shirt. Vou à cozinha e a Luísa está à procura de algo no frigorífico. Veste apenas uma t-shirt justa e uma tanga azul escura. Chego-me a ela por trás, meto-lhe as duas mãos na cintura e beijo-a no pescoço. Ela coloca-me a mão na nuca e roda o pescoço para me beijar. Retira uma embalagem de sumo de laranja do frigorífico e pede-me para, quando a campainha tocar, abrir a porta do prédio e receber a pizza. Abre um armário, retira dois copos e dirige-se à sala. Sigo-a e ligo o Spotify na televisão. Coloco um mix de música rock clássica baixinho, apenas para fazer ambiente. A campainha toca e vou buscar a pizza. Recebo o nosso jantar e levo-o para a mesa do jantar, agradecendo ao entregador. Sento-me e retiro uma fatia, que entrego à Luísa. Depois outra para mim. Comemos em silêncio durante alguns segundos, a Luísa olhando-me com curiosidade.

- Que foi? - pergunto sorridente

- Nada, nada... Só estou à espera.

- De quê?

- De ti.

- Como assim? Estou aqui. Estás à espera de quê?

- Não tens perguntas?

Coro ligeiramente e ela dá uma gargalhada

- Tiago, Tiago... Diz lá, meu querido. O que é que vai nessa cabecinha?

- Er...

- Sim, querido. Foi bom. Foi muito bom! É isso que querias saber não é?

- Er...

Novamente, a Luísa dá uma gargalhada e dá mais uma trinca na pizza, enquanto mete a mão na minha perna.

- Foi bom, meu amor. Foi muito bom. Para primeira vez, foi mesmo muito bom. E para ti? Gostaste?

- Er... Muito. Gostei mesmo muito.

- Fico muito feliz. Um brinde a já não seres virgem?

Pego no meu copo e brindo, vermelho que nem um tomate. Bebo um golo e tiro mais uma fatia de pizza.

- Tens mais alguma pergunta?

- Não. Se tu me dizes que foi bom e que correu bem, não tenho mais perguntas.

- Foi muito bom, sim. E correu, sinceramente, melhor do que estava à espera.

- Como assim?

- Quando tens sexo com uma pessoa nova, normalmente a primeira vez é a pior. Por isso é que muitas pessoas não gostam muito de one night stands. E no teu caso, como era a tua primeira vez com qualquer mulher, podias ter tido o orgasmo depressa demais e ficares frustrado. Mas não. Viemo-nos ao mesmo tempo e foi maravilhoso. A partir de agora, a tendência é para ser ainda melhor. Mal posso esperar... - diz-me com um sorriso maroto.

- E a minha pila...

- A tua pila? A tua pila é maravilhosa. É grande sem ser grande demais. É grossa mas não é grossa demais. Toca-me todos os pontos da maneira certa. É perfeita.

Coro de prazer e dou mais uma trinca na pizza. Ela acaba a fatia que está a comer e levanta-se.

- Bem, tenho de ir fazer um trabalho. O que vais fazer?

- Fico aqui na sala a ler um bocadinho. Não te quero incomodar.

- OK. Vou andando então. Levas depois tudo para a cozinha?

- Claro que sim.

Acabo de comer rapidamente e deito a caixa no contentor dos papéis. Coloco os copos dentro da máquina de lavar louça e vou ao quarto pequeno. Procuro numa estante por um livro interessante e encontro uma colecção que já ouvi falar mas que nunca li. Vou ao quarto da Luísa, que está a abanar o capacete enquanto tecla a velocidade vertiginosa, como habitual. Para não a assustar, chamo-lhe a atenção mexendo os braços e ela olha-me e retira os phones.

- Sim?

- Estava ali na biblioteca à procura de um livro e vi a tua colecção de livros do Jo Nesbo. São bons?

- Adoro-os. O Harry Hole é uma personagem espectacular. Mas não comeces pelo primeiro livro, que é muito fraquinho. O segundo é melhor mas, para saberes mesmo se gostas do estilo, se nunca leste, começa pelo terceiro. Chama-se "O Pássaro de peito vermelho".

- OK, obrigado

Volto ao quarto pequeno, encontro rapidamente o livro que ela aconselhou e levo-o para a sala. Deito-me confortavelmente e começo a ler. Ao fim de meia dúzia de páginas, estou agarrado. Gosto muito da escrita e as personagens são super interessantes.

Vou a meio do livro, não sei bem quanto tempo depois, quando ouço o autoclismo. A Luísa foi à casa de banho. Alguns segundos depois, aparece à porta da sala...

- Vou dormir. Estás a gostar do livro?

- Bastante. Este Harry Hole é um prato. Que personagem tão profunda. Que horas são?

- Quase meia noite. Como é o teu dia amanhã?

- Práticas o dia todo, hora de almoço à uma e meia e depois aulas até às 5. Se calhar vou-me já deitar, também. - Levanto-me e coloco um marcador no livro.

- É verdade. Amanhã é um dia comprido para os dois. - A Luísa segue pelo corredor para o quarto e eu sigo-a, mirando-lhe o rabo enquanto ando. - Eu só tenho aulas de manhã, mas quero mesmo acabar o trabalho que estou a fazer. O Departamento de Civil tem salas de trabalho boas?

- A net é fixe, mas os pc's são do tempo da guerra.

- Hmmm, se calhar venho para casa depois do almoço então. Almoçamos juntos e quando saíres ligas-me para estarmos um bocadinho juntos? - Enquanto diz isto, abre a cama e deita-se.

- Claro que sim - digo, deitando-me ao lado dela e encostando-me a ela e abraçando-a.

Ao sentir o meu toque, a Luísa volta-se para mim e beija-me longamente. Sinto a mão dela na minha bochecha, depois a descer para o meu peito, depois barriga, depois para os meus boxers, onde descansa apalpando e fazendo-me festinhas.

- Hmm... gosto disto! - Diz-me ela entre beijos

- Não respondo mas continuo a beijá-la enquanto lhe apalpo o rabo. Uma onda de luxúria começa a invadir-me, motivada pela mão dela já dentro dos meus boxers a afagar-me devagarinho, quase um sopro em vez de um toque. Ela baixa-me os boxers e deita-se em cima de mim enquanto me beija apaixonadamente. As minhas mãos, que estavam no rabo dela, levantam-lhe a t-shirt. Ela ajoelha-se e deixa-me despi-la enquanto diz "Saidinho da casca, o menino, não?". Rio-me e coloco uma mão em cada mama dela, brincando com os mamilos e torcendo-os devagarinho. Ela geme de prazer e beija-me novamente, com mais insistência. Viro-a ao contrário e deito-me em cima dela. Roço o meu pau duro por ela e ela estica um braço para a gaveta da mesinha de cabeceira. Retira a caixa dos preservativos e tira um. Ajoelho-me e tiro-lhe a tanga com uma mão enquanto com a outra me torço todo para retirar os boxers. Ela senta-se e coloca-me o preservativo rapidamente enquanto tiro a t-shirt. Com uma mão, ela puxa-me para ela enquanto se deita. Com a outra, conduz-me para dentro dela. Penetro-a de uma vez só, bem fundo. Ela estava pronta para mim mas quando entro dentro dela ela geme alto e enterra as unhas nas minhas costas.

- Magoei-te? - Pergunto-lhe assustado, parando.

- Não, não pares. - Diz ela, com a voz alterada.

Começo a menear as ancas, entrando e saindo de dentro dela lentamente. A sensação é maravilhosa. A Luísa geme baixinho a cada estocada minha e eu sinto o canal dela apertar-me. Acelero as minhas estocadas ao som dos gemidos de prazer dela, sentindo que a qualquer momento vou explodir de prazer, mas aguento estoicamente. Sinto as pernas dela a entrelaçarem-se nas minhas e beijo-a apaixonadamente, enquanto a apalpo com força com a mão direita, como sei que ela gosta. Alguns segundos depois, a Luísa pede-me para entrar dentro dela mais depressa, que se vai vir outra vez. Obedeço e sinto aquele aperto no peito e atrás dos meus testículos, indicadora de que vem daí um orgasmo. Coloco um braço de cada lado da cabeça dela e entro dentro dela até não ter mais nem um milímetro para enfiar. O meu pau estremece, começa a derramar esperma e um urro de prazer sai da minha boca. A Luísa arranha as minhas costas enquanto acompanha as minhas ejaculações com gemidos altos. Saio de dentro dela e deito-me na cama de barriga para o ar, respirando com dificuldade. A Luísa ri baixinho enquanto respira fundo várias vezes.

- Estás a rir-te de quê? - Pergunto-lhe

- A semana passada, se me sentasse ao teu colo, tu tinhas um orgasmo. Se te dissesse uma frase mais sarcástica, fechavas-te num casulo e não conseguias dizer um pio durante 5 minutos. Hoje, fizeste amor comigo e ficaste por cima. Despiste-me, deixaste-me pôr-te um preservativo, entraste dentro de mim e pinaste maravilhosamente, durante tempo suficiente para me provocar dois orgasmos seguidos. Já viste tão diferente que estás?

Pondero as palavras dela e sorrio. Ela tem razão. Posso continuar a ser tímido, mas a Luísa faz-me sentir melhor. Faz o melhor de mim vir cá para fora. Literalmente...

Levanto-me, retiro o preservativo e deixo-o no caixote da casa de banho, como ela me pediu. Lavo-me rapidamente no bidé e volto para a cama. A Luísa pede-me para não me vestir enquanto confirmo o despertador para o dia de amanhã, eu deito-me e ela aninha-se em mim. Adormecemos assim, com a respiração em uníssono, nus e saciados.

(continua...)

Parte 25

(continuação...)

Entramos na casa da Luísa, descalçamo-nos e seguimos para o quarto dela. O meu telefone toca. É o hospital, a fazer o update do dia. Desde hoje de manhã, não há alterações ao estado físico do meu pai. Continua no coma induzido, sem alterações. As funções cerebrais estão normais e os sinais vitais estão bem. Os rins estão a funcionar normalmente. Agradeço e ligo para a Susana primeiro, depois para o Diogo, com as informações. Ambos agradecem e despedem-se de mim com um até amanhã, sem mais novidades. A Luísa entretanto ligou o computador e está a ler qualquer coisa. Faço-lhe uma festinha no cabelo para lhe chamar a atenção e digo-lhe que vou para a sala ver um bocado de televisão. 

Pouco tempo depois, ela vem ter à sala dizendo que não se consegue concentrar. Aninha-se a mim e dá-me um beijo carinhoso. Abraço-a e ficamos assim, a ver a série que dá na televisão. Quando o episódio acaba, metemos outro, depois outro. Distraído, estou a fazer-lhe festinhas no braço e ela tem a cabeça no meu peito.  Algum tempo depois, ela pega na minha mão, dá-me um beijo e muda de posição. Beija-me outra vez, intensamente, enquanto me abraça. Está a saber-me tão bem que esqueço a televisão e puxo-a para mim. Ela ajoelha-se ao meu colo e eu ponho as mãos na cintura dela. Beija-me com mais intensidade enquanto me despenteia. Sinto o corpo dela a colar-se ao meu e uma sensação agradável nas virilhas. Apalpo-lhe o rabo com as duas mãos e ela suspira de prazer. Chega-se para trás e tira a blusa amarela, ficando só de soutien. Beija-me com mais força e eu sinto a pélvis dela a roçar por mim. Há uma semana, isto era o suficiente para me fazer ter um orgasmo. Hoje, é excitante, mas consigo controlar-me melhor. Satisfeito, beijo-a com fervor e sinto as mãos dela na minha barriga, a puxar-me  a t-shirt para cima. Levanto os braços e deixo-a despir-me. Fico em tronco nu e ela imita-me, tirando o soutien. Olho maravilhado para o peito dela. Não me canso de lhe mirar o corpo nu. Ela volta a beijar-me, colocando uma mão de cada lado da minha boca e abrindo bem os lábios para permitir que a minha língua entre totalmente na boca dela. Apalpo-lhe as mamas e brinco com os mamilos dela, apertando-os entre o polegar e o indicador, provocando gemidos baixinhos e um aumento da pressão da pélvis dela sobre mim. Depois meto as mãos nas coxas dela e sigo até ao rabo, abrindo bem as mãos para abarcar o máximo de área possível, apertando e puxando-a contra mim. Ela suspira e diz-me ao ouvido "Quero-te tanto, Tiago". Não sei bem o que responder por isso digo só "Eu também, Luísa". Ela levanta-se e estende o braço para mim. Dou-lhe a mão e ela puxa-me, levantando-me do sofá. Vamos de mãos dadas até ao quarto. Entramos e ela fecha os blackouts. Enquanto eles fecham, ela vem ter comigo e beija-me. Sinto as mãos dela na minha cintura, atarefadas com o meu cinto e os botões das minhas calças. Quando as abre, coloca um dedo por dentro do cós de cada lado da cintura e baixa-mas até meio das coxas. Eu acabo de as despir sem quebrar o beijo, ficando apenas de boxers e meias. Sinto as mãos dela no meu rabo e demonstro o meu contentamento encostando mais a minha pélvis a ela. Ela dá dois passos atrás e senta-se na beira da cama. Desaperta as calças e despe-as, ficando apenas com a tanga preta. Chega-se mais para trás e deita-se, com uma perna esticada e a outra dobrada pelo joelho. Deito-me em cima dela de pernas abertas e beijo-a apaixonadamente na boca e pescoço. Sinto a pele dela a arrepiar-se e recordo os ensinamentos de Domingo. Continuo a beijar-lhe o pescoço enquanto com as mãos apalpo-lhe as mamas com força. Lambo-lhe os mamilos, chupando languidamente e trincando-os devagarinho. A Luísa vai fazendo pequenos ruídos de satisfação enquanto com a mão me vai chegando cada vez mais para baixo. Não me faço rogado e vou beijando a barriga dela, depois o umbigo, depois uma coxa, depois a outra, enquanto a liberto da tanga. Já despida, ela abre as pernas e com a mão conduz-me ao que pretende. Beijo e lambo-lhe os grandes lábios e ela geme baixinho. Com a língua toda, lambo-lhe a entrada da vulva, aberta com a ajuda dos meus dedos. Ela estremece e vai dizendo baixinho o quanto lhe está a saber bem. Sigo para o clitóris dela e lambo-o só com a ponta da língua, enquanto enfio um dedo dentro dela. Sentindo o meu dedo dentro dela, ela geme com mais força e pede-me para continuar. Não me faço rogado e chupo-lhe o clitóris com força como se fosse um mamilo. Ela dá um salto e geme com mais força "Aaaaah, isso Tiago, não pares". Relembrando o que ela me disse no domingo, tirei o dedo de dentro dela, lambi-o para sentir o seu sabor e enfiei-o novamente, acompanhado do indicador. Ela geme novamente e eu redobro os beijos e lambidelas no clitóris, enquanto a vou masturbando devagar. Ela arqueia as costas e geme mais alto, enquanto a mão dela faz mais pressão na minha cabeça. Finalmente, toco-lhe no ponto G e com os dois dedos esfrego bem. Ela aumenta o volume dos gemidos e meneia a pélvis descontrolada num orgasmo potente enquanto eu vou libertando a pressão sobre o clitóris e retirando os dedos de dentro dela. Ela puxa-me para ela e beija-me com força. Vira-me ao contrário e deita-se em cima de mim, quase arrancando os meus boxers em seguida. Abre a gaveta da mesinha de cabeceira e retira uma caixa de preservativos. Abre-a, retira um preservativo envolto numa capa prateada que abre com mãos ágeis e coloca-mo rapidamente. O toque das mãos dela no meu pénis quase me faz vir, mas contenho-me. Ela beija-me e encosta-se bem a mim. Deixamo-nos ficar assim durante algum tempo encostados e aos beijos e eu sinto a pressão por trás dos meus testículos a diminuir. A Luísa pára de me beijar e diz-me "Se sentires que estás a ter um orgasmo, deixa-te ir e não entres em pânico. Pode demorar vinte segundos ou vinte minutos. É tudo normal." Soergo-me nos cotovelos e faço que sim com a cabeça, enquanto ela pega no meu pau e aponta-o à entrada dela. Como se se estivesse a sentar, ela faz-me penetrá-la com um suspiro. A sensação já não é nova, mas não deixa de me maravilhar. Sinto cada centímetro do meu pau a ser pressionado pelo canal dela, uma pressão agradável que faz com que o meu pau fique mais duro. Ela deita-me nas almofadas e beija-me. Meneia as ancas e sinto-me a entrar e sair de dentro dela. Ouço-a gemer e coloco as mãos no rabo dela, pressionando-a para baixo. O resultado é magnífico. Entro mais fundo dentro dela e ouço-a gemer o meu nome baixinho ao meu ouvido. Começo a sentir o orgasmo a chegar e digo-lhe "Luísa, vou-me vir" enqianto ela acelera o ritmo. Ela ajoelha-se novamente e diz "Vem-te para mim meu amor", enquanto com os músculos vaginais me aperta dentro dela. Fecho os olhos e sinto o orgasmo chegar com toda a pujança. Abro a boca num gemido prolongado e ouço-a a gemer cada vez mais alto. A minha pélvis tem repetidos estertores que não consigo controlar e que me fazem entrar mais fundo dentro dela. Finalmente, sinto-a apertar-me ainda mais e com um grito "Tiaagoo" ela abate-se sobre mim. O corpo dela mole como se sem vida e a respiração acelerada.

- Que orgasmo tão bom meu amor, - diz-me ela ainda esbaforida

- Sério? - estou exactamente como ela

- Sim. Não sentiste?

- Não sei...

- Quando estavas a vir-te, sentiste que eu estava mais apertada, como se estivesses a forçar-te dentro de mim?

- Sim.

- Quanto mais pressão fizer, mais poderoso está a ser o orgasmo. Não é uma ciência exacta, há mulheres com os músculos vaginais (chamam-se músculos de Kegel) mais desenvolvidos que outras. Mas normalmente, sabes que o orgasmo está a ser bom quando de repente os músculos apertam com mais força.

- OK. Nesse caso senti, sim. Senti muito bem.

- Eu também te senti. Foi muito bom - diz, enquanto me beija apaixonadamente.

Beijamo-nos durante alguns minutos, os nossos corpos muito encostados. Ela tira-me o preservativo, dá-lhe um nó parecido com o que a minha mãe dá nos sacos de pão da padaria e pede-me para deitar os preservativos usados no caixote da casa de banho. Sigo com ela para a casa de banho e entro para o duche. Ela diz-me que está com fome e pergunta-me se alinho numa pizza. Digo-lhe que sim e tomo um retemperador banho de água morna. Finalmente, fiz amor pela primeira vez com a Luísa. E foi melhor do que alguma vez imaginei.

(continua...)

Parte 24

(continuação...)

Bato à porta do gabinete do professor de Álgebra, depois de me certificar junto da portaria que ele está no gabinete. O professor está sentado à secretária, de máscara posta. É um homem baixinho e gordinho, já grisalho que veste um fato cinzento e uma camisa azul, sem gravata. Cumprimento-o e começamos a falar.

- Bom dia Tiago, como está?

- Bom dia Engenheiro, estou bem, na medida do possível.

- O pai, como está?

- Em coma induzido, mas a operação correu bem e espera-se que recupere. 

- Lamento a situação. Espero que recupere rápido.

- Obrigado, Engenheiro.

- Tiago, temos de resolver este problema do teste. Quando é que pode fazê-lo?

- Quando o Engenheiro quiser. Estou pronto para ele, como estava ontem de manhã.

- Acha que está em condições de o fazer hoje à tarde? Às 15h, por exemplo?

- Sim, Engenheiro. Claro que sim. Em que sala?

- Um momento, vou ver a disponibilidade. 

Pega no telefone e marca um número. Aguarda uns segundos e, em voz formal, solicita uma sala para um teste individual a um aluno que teve um problema familiar, para hoje à tarde. De preferência por volta das 15h. Diz que não duas vezes e finalmente a sugestão agrada-lhe.

- OK, pode reservar. Muito obrigado. Bom dia. - vira-se pra mim e diz: - 15:30 na sala 19.

 - Lá estarei, Engenheiro. Mais uma vez obrigado.

Mando sms à Luísa e ao João a informar que tenho o teste às 15:30. O João diz que me vai dar o enunciado dele ao almoço para eu rever as perguntas. A Luísa pergunta onde é o teste. Quando respondo, ela diz que vai lá ter 10 minutos antes para me dar um beijinho. Agradeço e sigo para a sala de estudo. O João liga-me às 13h e vem ter comigo. Dá-me o enunciado e revemos rapidamente o teste com a ajuda da sebenta e dos textos e vamos almoçar. Depois do almoço passo pela sala de estudo para rever um parágrafo da matéria e sigo para a sala 19. Conforme prometido, a Luísa vem ter comigo, uns minutos antes. Abraça-me e deseja-me sorte, ficando comigo até eu entrar na sala, às 15:30 em ponto.

O professor está de pé à minha espera. Quando me vê, aponta-me uma secretária e pede-me para me sentar. Quando me sento e vou retirar o estojo da mochila, ele pára-me. Vamos ter uma prova oral. O professor apresenta-me um caso prático em power point e eu respondo oralmente, misturando dois métodos dados em aula com um terceiro que ainda não tinha sido dado. Surpreendido, questiona-me sobre o meu conhecimento do método e eu informo-o que já o li nos textos da disciplina e sempre o achei o mais moderno e capaz de resolver os problemas mais comuns. O professor, satisfeito com a resposta, chama-me ao quadro e pede-me para expor o modelo em cálculo, usando valores aparentemente aleatórios. Mas eu recordo-me rapidamente de ter visto os valores semelhantes numa pergunta com rasteira de um exame final e respondo isso mesmo. Intrigado, o professor faz um novo caso prático, desta vez com valores reais usados num projecto. Efectuo os cálculos com alguma dificuldade mas confiante e, com a ajuda da máquina de calcular, resolvo o caso prático em alguns minutos. Impressionado, o professor diz-me que é suficiente. Pede-me para sentar novamente e faz-me duas questões mais complexas. Uma delas, tenho a resposta na ponta da língua mas a outra nem por isso e atrapalho-me a responder. O professor termina com mais um caso prático retirado de um caderno de apontamentos dele e eu efectuo o cálculo, mas confundo dois métodos e não dou a resposta perfeita. Ainda assim, ele está satisfeito e diz-me: "Muito bem Tiago. Estou muito contente com os seus conhecimentos. 15 valores. Se mantiver a nota no próximo teste, vou ficar muito contente.

- Obrigado Engenheiro.

- Pode sair. Uma boa tarde.

- Boa tarde Engenheiro.

Saio da sala inchado de orgulho. 15 valores a Álgebra. O ano passado, vi-me e desejei-me para não ir a exame. A Luísa espera-me à porta do edifício e, ao saber da nota, arranca-me a máscara e beija-me efusivamente. Mando mensagem ao João, que responde com um emoji com um braço a fazer músculo que me faz rir. Já não tenho mais aulas e o próximo teste é daqui a uma semana, por isso aceito o convite da Luísa e vamos para casa dela jantar. Mas antes, passo em casa para pegar uma muda de roupa e o estojo de casa de banho.

Seguimos de mão dada pela rua quando passamos pelo Zé Manel Porco. A Luísa continua como se nada se passasse mas ele interpela-nos, pondo-se à nossa frente na rua estreita.

- Olá Luísa, tudo bem?

- Sim e tu?

- Também. Olha, queres ir beber um copo um dia destes? - pergunta-lhe enquanto me fita com ar de gozo, a ver a minha reacção. Mantenho-me calado.

- Não.

- Não? Porquê?

- Porque não quero sair contigo.

- E quem é este? O teu novo namorado?

- Sim.

- Como te chamas, miúdo?

Ainda sem falar, olho-o desafiadoramente, sem receio. O Ze Manel é um rapaz de 22 anos, com cerca de um metro e noventa e que pesa uns cem quilos se não mais. Como sempre, anda trajado e com a guitarra ao ombro. O cabelo louro cor de palha e os olhos azuis, mais as faces rosadas dão-lhe um ar de criança, mas este tipo é mau como as cobras.

- Não me ouves a falar contigo?

- Não quero conversas contigo. - digo-lhe.

- Olha olha, o puto tem genica. 

- Zé Manel, põe-te a andar. Não tenho mais nada para te dizer. - diz-lhe a Luísa

- Olha lá pá, tás a falar com quem nesses termos?

- Não a ouviste? Não temos conversa para ti. Deixa-nos passar. - digo, colocando-me entre os dois para evitar mais chatices

- Tu tá mas é calado que ninguém falou contigo.

- Zé, deixa-nos passar se faz favor! Não sejas estúpido. - a Luísa está em brasa com a situação, nas minhas costas.

- Tás a chamar estúpido a quem, pá! Já me tou a passar. Tás aqui tás a...

- Tou a quê? Vais-me bater? No meio da rua? E ao meu namorado também? Mas tu és idiota ou fazes-te?

O Zé Manel pondera as suas opções de resposta neste momento. Por detrás dos seus olhos quase se vêm os neurónios a funcionar a todo o vapor, mas a Luísa fala antes de ele sequer conseguir responder.

- Vê lá se não te esqueces da nossa conversa. Além dos teus pais, os teus amiguinhos da tuna e o Conselho Directivo também podem receber emails.

O Zé Manel muda de cor e diz para irmos andando, estupidamente. Afasta-se e deixa-nos passar, ficando a ver-nos até contornarmos a esquina seguinte. Quando temos a certeza de que não nos segue, a Luísa pede-me desculpa pela situação. Eu nem digo nada. Ela não tem culpa. Só teve dedo podre, quando namorou com ele. Mas não digo isto em voz alta. O dia está a correr bem, não vamos estragar. Seguimos em silêncio até à casa dela. Ela mete a chave à porta e entramos.

(continua...)

Parte 23

(continuação...)

Sentamo-nos à mesa e o empregado traz-nos os menus.

Pedimos um presunto de vaca com azeite e manjericão para entrada. Optamos por dividir pratos de peixe e carne, pelo que pedimos para nos trazerem primeiro um bacalhau confitado com broa, especialidade da casa, acompanhado do vinho branco que nos serviram à entrada. De seguida, aconselham-nos o peito de galo celta com puré de couve flor e cenoura, acompanhado por um copo de vinho tinto da Bairrada. Aceitamos a sugestão e voltamos à conversa. O professor de Redes já  respondeu ao envio do trabalho com elogios, pelo que ela estava muito feliz. Falámos também do João e da Sofia e lembrei-me que ainda não lhe tinha dado notícias. Rapidamente, escrevi-lhe uma mensagem de Whatsapp a informar sucintamente do estado do meu pai e dizendo-lhe que amanhã também não ia às aulas. Ele respondeu garantindo que depois me passava os apontamentos todos e a desejar as melhoras. Agradeci e voltei à Luísa. Nisto, chegam as entradas e deliciamo-nos com a magnífica iguaria, enquanto falamos de trivialidades. Estou mais bem disposto apesar de tudo e a Luísa está a fazer um esforço por me ajudar a esquecer um pouco o azar do meu pai.

O jantar decorre maravilhosamente e terminamos com cafés, demasiado cheios para sobremesas. Depois do jantar vamos passear um pouco à beira-rio, de mãos dadas. 

- Luísa?

- Sim, Tiago?

- Nós somos namorados?

- Já te disse. Na minha cabeça, sim. Não quero estar com mais ninguém? E tu, o que pensas sobre isso?

- Penso o mesmo que tu.

- Então sim, somos namorados.

- É assim tão simples?

- Para quê complicar? Não é rocket science, querido. Temos 20 anos, gostamos um do outro, gostamos de estar juntos. Se tu não queres estar com mais ninguém...

- Eu? Eu não...

- Pronto. Não preciso de um convite todo fancy e romântico como o João fez à Sofia. Nem de um anel a comprovar que estamos juntos. Só preciso de ti a meu lado e de saber que és feliz comigo e que não queres estar com mais ninguém. Isso já me deixa satisfeita. 

Paramos e eu olho-a nos olhos. Mesmo de máscara, dá para ver que ela está feliz com a conversa. Quanto a mim, esqueço por momentos o problema do meu pai. Abraço-a e seguimos de mãos dadas, felizes, até à porta da casa dela.

- Sobes?

- Não. Tenho de ir para casa, mandar um email ao professor de Álgebra a explicar a situação e a pedir uma data para repetir o teste.

- Não te esqueças que deixaste cá a tua mala da roupa.

- Ahhh, verdade. Já me tinha esquecido. Afinal subo. Mas só cinco minutinhos.

Subimos a casa dela. Pego na mala e levo-a até à porta. Despedimo-nos com um beijo apaixonado e um abraço bom.

- Dorme bem, namorado - diz-me ela, gozona, enquanto desço a escada.

Vou até à Residência e desfaço a mala. Ligo o Spotify e coloco uma playlist de Rock Clássico. Abro a plataforma enquanto os Beatles cantam o Norwegian Wood e encontro o contacto o professor de Álgebra. Escrevo um email a explicar o meu problema familiar, pedindo desculpa por não ter feito o teste e solicitando-lhe nova data para o fazer. Anexo uma declaração de presença do HUC e envio o email. Ponho o despertador para as 8 e deito-me na cama, enquanto os America cantam que atravessaram o deserto num cavalo sem nome. E adormeço em seguida, preocupado com o meu pai. Mas contente comigo.

Acordo com o despertador e tenho uma sms da Luísa. "Bom dia namorado. É só para mandar um beijinho e desejar que tudo corra bem com o teu pai". Respondo nos mesmos moldes e vou tomar banho. Despacho-me e sigo para o Hospital, no autocarro. Chego lá e peço para falar com o médico, informando que ele deve estar a aguardar-me, tal como a Susana me disse ontem. O Doutor vem pessoalmente à recepção e leva-me para o seu gabinete. Conforme combinado, ligo para a minha irmã em alta voz que, com voz formal, cumprimenta o médico antes de ouvir o relatório da noite do meu pai e dos próximos passos. Ainda não foi retirado do coma induzido para não haver sofrimento com dores mas passou bem a noite. A pressão intra-craniana foi medida ininterruptamente toda a noite e pela manhã fizeram novo teste para confirmar que não haviam quaisquer inchaços ou coágulos. A minha irmã fez duas ou três perguntas começando-as por "colega" e usando termos complicados e depois das respostas, desdobrou-as em termos leigos para eu perceber e poder explicar ao Diogo. Estava tudo bem com o meu pai, a recuperação, apesar de longa, era quase certa. O braço, a perna e a anca foram tratados também e deviam sarar completamente. Saio feliz do gabinete e despeço-me do médico com um fist bump, depois de agradecer o excelente trabalho. Infelizmente o meu pai ainda está na UCI, pelo que não o posso ver, mas garantem-me que ele está bem, sem dores e que em breve o retiram do coma induzido. 

Telefono ao Diogo e informo-o de tudo o que se passou naquela manhã. Do lado dele, ainda não há novidades mas assim que as houver diz-me. Pergunta-me pelo jantar de ontem e eu digo-lhe que a minha namorada gostou muito. Ele dá-me os parabéns pelo namoro e tal como a minha irmã, faz-me prometer que vou tratá-la bem e não fazer parvoíces. Depois aconselha-me a ir à Universidade e retornar as aulas, voltando no final do dia para saber novidades. Informo-me na recepção e dizem-me que enquanto o meu pai estiver na UCI eles ligam diariamente com o update do dia. Deixo o meu número de telefone e peço para me ligarem às seis da tarde, garantindo assim que não estou em aulas. Volto para a Universidade aliviado. Pelo caminho abri o meu email e o professor já respondeu. Compreendeu a situação, lamenta o sucedido e deseja rápidas melhoras. Mas a avaliação tem que ser feita, por isso pede-me para ir ter ao gabinete dele o mais rápido possível, para agendarmos o teste novamente. Saio do autocarro junto à Universidade e sigo para o moderno edifício do Departamento.

(continua...)

Parte 22

(continuação...)

Passo a tarde no hospital à espera de novidades. A minha mãe telefona e, pela conversa, entendo que ainda não está a par de nada. Evasivo, cumpro o que o meu irmão me pede e finjo que não sei detalhes e prometo ligar quando souber novidades. A Luísa também me liga e ponho-a a par. Oferece-se para me fazer companhia mas rejeito. Quero ficar sozinho. Ela percebe. Só lhe peço para passar no HUC e dar-me o carregador do telemóvel que está no quarto dela. Quando ela lá passa à boleia do João e da Sofia, dá-me um abraço e um beijo, mas estou tão alheado que ela não demora mais que dois minutos. Finalmente, às sete da tarde, sei mais qualquer coisa. O meu pai já saiu da operação e está no recobro. A operação correu bem mas o prognóstico é reservado. Ligo à minha irmã Susana que novamente atende ao primeiro toque. Digo-lhe o que me disseram e ela desliga com um "Não ligues ainda ao Diogo. Deixa-me tentar falar com o Neuro. Já te ligo" Aguardo enquanto ouço Kashmir. A linha de baixo deixa-me animado. A voz do Robert Plant acompanhou-me toda a tarde, mas esta música sempre foi especial para mim. Com os últimos acordes, o meu telefone toca. É a Susana. Já falou com o cirurgião e garante-me que a operação foi, dentro do possível, um sucesso. Não conseguem garantir ainda que não há danos permanentes, mas a probabilidade é boa. O cenário está menos negro. Aconselha-me a ir para casa, porque hoje já não vão dar novidades, mais vale descansar. Pede-me para estar no HUC novamente amanhã às nove da manhã. A essa hora, peço para falar com o médico e recebo um update. Ligo-lhe e falamos em alta voz com ele. Ela pode colocar mais questões se for preciso e ficamos a saber o mesmo. 

- Tiago, estamos muito orgulhosos de como lidaste com a situação, maninho. Estás a ficar um adulto!

- Obrigado mana. Este ano a escola corre-me melhor e fiz bons amigos que me estão a ajudar também.

- Ai é? Que bom! Tens tirado boas notas é?

- Tive 18 a Estruturas, que é um dos cadeirões. Tenho é de falar com o professor de Álgebra. Estava a começar um teste quando a mãe ligou a dar a notícia do pai.

- Boa nota! Continua assim, Tiago. Quanto a Álgebra, não te preocupes. Fala com o professor, pede uma justificação no hospital e repetes o teste outro dia.

- Vou fazer isso, sim.

-Olha lá. E namoradas?

- Conheci uma rapariga espectacular, estamos a conhecer-nos...

- Que boa notícia! Espero que ela te trate bem. Não te esqueças de ser sempre correcto para ela, mesmo quando as coisas estiverem mais difíceis e tu tenhas a razão. Sim?

- Sim, Susana. Podes ficar descansada, que não te faço passar nenhuma vergonha!

- Acho bem, puto. Senão levas porradinha, ouviste? 

Sorrio e despeço-me dela mais animado. Ligo para o Diogo, que está em casa dos meus pais. Ele sai de casa para falar comigo sem a minha mãe ouvir. Descrevo-lhe a situação do nosso pai e a conversa com a nossa irmã. Ele explica-me o que se passa em Seia. A empresa tem os seguros todos em dia e a papelada toda assinada mas o poço do elevador em que o pai caiu devia estar vedado para prevenir acidentes e não estava. Quando os bombeiros levaram o meu pai, reportaram a situação à companhia de seguros. É muito provável que por causa disso o pai não tenha direito às despesas do hospital pagas pelo seguro. A recuperação muito menos. O meu irmão está possesso e garante-me que, caso seja esse o resultado, coloca um processo tão grande em cima do construtor que quando ele der por isso tem de pagar um monte de dinheiro de indemnização.

- Mas Diogo... E até lá? Isso vai demorar muito tempo. Como é que pagamos o hospital? E a fisioterapia, se for preciso? Ou pior... se o pai não recuperar?

- Tem calma Tiaguinho. Eu tenho uns dinheiros de lado, o hospital e o que for preciso a seguir eu pago. De certeza que a Susy também ajuda. O que é preciso agora é que fiques aí e nos vás pondo todos a par de tudo enquanto eu tento resolver as coisas aqui em Seia e não enervar a mana enquanto ela está em casa a tomar conta do Marito. Tens o papel mais importante dos três e estamos todos a confiar em ti.

- OK mano. Podem confiar.

- Olha lá. Tens aí amigos? Uma namorada? Alguém para te ajudar se for preciso?

- Tenho o João, um bom amigo, do meu curso. E a Luísa.

- Quem é a Luísa, Tiaguinho?

- É uma amiga...

- Amiga ou namorada?

- Ainda não sei. Olha... a mãe dela é professora de Direito...

- Sabes o nome?

- Anabela qualquer coisa Rodrigues

- Claro que sei quem é. Cadetrática de Penal. Lembro-me bem dela na faculdade. Pessoa espectacular. Mas nunca foi minha professora. Era a directora do CEJ quando lá andei. Se falares com ela, manda cumprimentos meus. Ela sabe quem eu sou.

- OK mano.

- Vá... agora vai descansar. Vou-te mandar um dinheiro por MBWay, oferece um jantar à Luísa que eu pago.

- Não é preciso...

- Não sejas tonto. Vai lá. Diverte-te um bocadinho hoje que bem mereces. Foste um apoio espectacular. Amanhã liga-me depois de falares com o Neuro e a Susy.

- Combinado. Beijinhos, mano.

Um minuto depois, recebo uma notificação no MBWay. O meu irmão mandou-me 200€. É quase o que eu gasto em comida num mês. Telefono à Luísa, conforme prometi. Ela atende ao terceiro toque.

- Estou, Tiago?

- Sim, olá Luísa.

- O teu pai?

- Está tudo encaminhado, felizmente. Já te conto. Já jantaste?

- Não, estava aqui de roda de um trabalho de Física. Queres jantar comigo?

- Não. Quero oferecer-te o jantar. Posso?

- Claro que podes. Saiu-te o Euromilhões?

- Não. Já te explico. Apanho-te à porta de casa dentro de meia hora?

- Sim. Claro. Qual é o dress code?

- Como quiseres. Qualquer coisa te fica bem...

- Tão fofo! Obrigado querido. Até já. Beijo.

- Beijinho, até já.

Reservo mesa no restaurante "No Tacho" para daí a uma hora e apanho um táxi para casa. Tomo banho, visto umas calças novas em sarja e uma camisa bonita, os sapatos de camurça e um casaco e vou até casa da Luísa. Toco à campainha e ela desce. Quando aparece à porta, cai-me o queixo. Veste um vestido preto cintado comprido, que lhe assenta maravilhosamente nas magníficas curvas do corpo, umas sandálias de salto fininho azuis com mala da mesma cor, o cabelo está preso de forma artística, com uma madeixa a pender-lhe junto a uma das orelhas e preso com um travessão bonito. Usa brincos com pendentes também azuis e um fio colorido comprido que termina logo abaixo do generoso decote, com um medalhão grande na ponta. Está magnífica. Assim que sai, mira-me e assobia de espanto.

- Uau Tiago. Gosto muito do look. Estás muito giro.

Ainda a recuperar do choque, digo em voz baixa.

- Luísa, tu estás linda!

- Gostas? Não é too much?

- Não. Estás perfeita!

- Oh... Obrigada. Onde vamos?

- Ao "No Tacho". Conheces? Diz que é bom!

- Fui lá uma vez com a minha mãe. Gostei muito! Marcaste mesa?

- Sim, para daqui a vinte minutos.

- Temos tempo. Vamos a pé?

- Sim. Podemos ir a conversar.

- Isso. Como está o teu pai?

Repito novamente a história. Ela ouve atentamente e faz-me algumas perguntas. Fica contente por saber que os meus irmãos me estão a apoiar. Quando lhe digo que o Diogo conhece a mãe dela, ela ri-se e diz que quando estiver com ela, transmite os cumprimentos. Chegamos à porta do restaurante dez minutos antes da hora e o empregado, simpaticamente, pergunta se queremos beber qualquer coisa antes do jantar, enquanto preparam a mesa. A Luísa pede um copo de vinho e eu, pouco habituado a estas coisas, peço o mesmo. Quando somos servidos, ela brinda "à saúde do teu pai" e eu olho-a agradecido nos olhos. O vinho está bastante fresco e é muito bom, frutado e saboroso. Nervosamente, vou bebendo sempre que ela bebe, enquanto falamos. Passado alguns minutos, o empregado chama-nos. A nossa mesa está pronta.

(continua...)

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