Parte 7
(continuação....)
Deixamo-nos ficar entrelaçados um no outro, enquanto recuperamos o fôlego. Ouço-a dizer "Epá, sim senhora, assim vale a pena" baixinho, mas não respondo nem comento. O meu membro flácido sai de dentro dela e pende, exaurido e envergonhado. Após alguns minutos, já a respirarmos normalmente, ela beija-me ternamente e olha-me nos olhos, com um meio sorriso envergonhado.
"Tu és um perigo", diz-me
"Porquê?"
Ela levanta-se cuidadosamente de cima de mim e senta-se na outra ponta do sofá com as pernas cruzadas à chinês. Eu sento-me, tiro o preservativo, dou-lhe um nó e olho inquisidoramente para ela, que o recolhe e se levanta. Ouço um caixote do lixo a abrir e fechar e ela entra novamente no quarto. Novamente, senta-se no sofá ao meu lado, mas com cuidado para não me tocar. Não sei muito bem o que pensar...
"Lembras-te da nossa conversa de terça-feira?", pergunta-me enquanto fita os pés e brinca com a pulseira de tornozelo
"Sim..."
"Então recordas-te que te disse que saí da minha última relação muito mal. Mas não sabes os pormenores. Eu dei tudo ao meu ex-namorado. Vivemos juntos seis anos como te disse. Eu sentia que era verdadeiramente feliz. Eu tinha tudo o que supostamente deveria ter numa vida normal - e faz air quotes enquanto fala. Tinha um namorado giro e que me tratava bem, tinha um emprego bom numa área que adoro a fazer o que gosto. Tinha uma casa confortável, um carro e dinheiro suficiente não só para me sustentar mas também para uma extravagância ou duas por ano, se tivesse cuidado. O que eu não te disse foi que depois de estar junta durante seis anos, quando eu achei que estava na altura do sim ou sopas, de saber se ele queria casar, ter filhos, formar uma família comigo, ele diz que não está preparado para dar esse passo ainda, que ainda tem vontade de viver um pouco mais a vida de solteiro e que, para eu estar a falar já do assunto, era melhor acabarmos imediatamente. Eu só queria saber o que é que ele pretendia fazer comigo. Não queria prendê-lo a mim imediatamente, nem levá-lo no dia a seguir ao registo para assinar os papéis do casamento ao mesmo tempo que deitava a caixa das pílulas no contentor do lixo. Nessa mesma noite, pegou nas coisas dele e saiu de minha casa. Duas semanas depois, pelo Instagram dele, vejo-o com uma das minhas melhores amigas dos tempos da faculdade de férias na Jamaica, todo ele beijos e carinhos e mensagens de amor. Venho mais tarde a saber que eles se andavam a comer há quase um ano. E eu, estúpida, em vez de cagar no assunto e andar para a frente com a minha vida, andei a chorar pelos cantos durante quase um ano. És o primeiro homem com quem estou desde Novembro, quando o João acabou comigo."
Mantenho-me em silêncio, porque senti que ela ainda não tinha acabado de falar.
"Não me leves a mal o que eu te vou dizer agora, por favor, mas é importante para mim que entendas isto. Tu não fazes, de todo, o estilo de homem por quem normalmente me sinto atraída. Na terça-feira, não fui eu quem viu o teu telemóvel na mesa. Foi a Clara, a minha melhor amiga. Ela deu-me o telefone e disse-me para te devolver o telefone e flirtar um pouco contigo, porque tinhas ar de ser bom na cama e um tipo porreiro."
"Ah... Bom saber que a Clara pensa isso de mim", disse sarcasticamente
"Não fiques ofendido. A Clara é uma desbocada mas é a melhor pessoa do mundo. Quando te devolvi o telefone, devia ter dito mais qualquer coisa. Tu foste super educado, agradeceste de forma sincera e olhaste-me nos olhos quando o fizeste. Depois foste educado com as minhas amigas. E depois atendeste a chamada profissional, mas antes pediste licença para atender. Nos trinta segundos que estive à tua frente, comportaste-te de forma decente. A Clara foi a dar-me na cabeça até ao carro dela. Quando passaste por nós, foste novamente educado, pediste licença para passar e desejaste-nos boa noite. E quando estavas longe do alcance da nossa voz, a Clara disse-me outra vez para eu te dar o meu contacto. E eu tive vergonha. Quis o destino que a bateria do meu telefone falhasse. E tu foste outra vez fantástico, preocupaste-te comigo e trouxeste-me a casa, sem me conhecer de lado nenhum. Conversaste comigo e foste irrepreensível, um cavalheiro. Não estou habituada a isso. Antigamente, não gostava quando os homens me apaparicavam. Sempre achei os homens que tratam as mulheres como tu me tens tratado fracos, moles. Nunca olhei para eles duas vezes. Sempre preferi os trastes, aqueles que tratam as mulheres com indiferença. E já percebi que não és assim. Mas estou a sentir-me bem a teu lado. Demasiado bem. Por isso digo que és um perigo. Não estou, de todo, preparada para ter uma relaçaão com alguém. Mas não consigo tratar-te como um sex friend. Não consigo fazer contigo o que a Clara me disse para fazer, quando lhe disse que ia sair contigo hoje. Motel, zás-trás-catrapás, Uber para casa e nunca mais te pôr a vista em cima. Mas preferia que não passasses a noite cá. Pode ser?"
Dito isto, olhou para mim, com aqueles olhos castanhos cheios de vida e de dúvidas que eu tinha estado a tentar ler a noite toda. A rir, para desanuviar o ambiente, perguntei-lhe se se queria casar comigo. Ela desatou a rir à gargalhada e disse-me "Um dia destes aceito e depois quero ver o que fazes". Ao que respondi "um dia destes digo-te". Levanto-me e começo a vestir-me novamente. Despeço-me dela com um beijo terno nos lábios e saio sozinho.
(continua...)