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Fábula #13

Manhã cedo. Hoje é o dia número 3 de lockdown total. As pessoas estão com medo, o pânico está instalado, o governo declara isolamento total. As pessoas estão proibidas de sair de casa. O telefone está mudo, o trabalho está a ser feito remotamente.


As vontades aumentam. Ele está completamente isolado e não fala ou vê ninguém desde sábado. A solidão começa a afectá-lo. A blogosfera não fala de outra coisa, o mundo encontra-se em pausa, neste momento. Necessita contacto com mais alguém.


Contacta a Flausina. Pergunta-lhe se quer encontrar-se com ele. A resposta demora algumas horas. Claro que sim, lê no email. Algumas trocas de emails alinham o tema. No Motel, dentro de 4 horas. O pagamento é feito imediatamente, por MBWay. Sai de carro e desloca-se os quilómetros necessários para chegar ao destino e, ao entrar na garagem, vê que não foi o primeiro a chegar. Um SUV de cor escura já se encontrava estacionado. Apenas passavam 5 minutos da hora.


Ao entrar no quarto, ouve-se o barulho de um chuveiro. Ela estava a tomar banho. Em virtude da conjuntura, parece-lhe bastante sensato. Despe-se completamente e desloca-se para a casa de banho. Ao entrar, ela está de costas para a porta, a acabar de se ensaboar. Fica alguns segundos à porta, assimilando a imagem.



Silenciosamente, atravessa a casa de banho até ao chuveiro e anuncia a presença com algumas pancadas suaves no vidro. Ela vira-se para e ele aprecia o magnífico corpo dela, tal como veio ao mundo, em todo o seu esplendor. Faz-lhe sinal para entrar e, quando ele o faz, é agraciado com um beijo suave e terno na boca, um choque de lábios apenas.


Ela sai do duche e rapidamente ele lava-se, sempre com ela a olhá-lo. Sai do duche e ela atira-lhe uma toalha seca. Rapidamente seca-se e, ainda nu, vai ter com ela. Ela ri-se e diz... "Anda cá que eu não te aleijo"



Os corpos de ambos uniram-se na cama, fundindo-te num só. A tensão acumulada fez com que rapidamente atingissem o orgasmo, mas nenhum deles quis parar o momento. Continuaram a beijar-se, a tocar-se e a fundir-se um no outro, apenas se ouvindo os gemidos e a respiração acelerada de cada um.


Após o que pareceu imenso tempo, ambos encontravam-se saciados. Para já. Verificaram que ainda tinham duas horas e, calmamente, beijaram-se mais um pouco e sorriram um para o outro. Conversaram sobre o que haviam feito nos últimos dias, dos problemas no trabalho e do que se estava a passar com família e amigos. Viram as notícias e aperceberam-se de que estava prestes a ser declarado o estado de emergência. Em breve deixariam de poder contactar fisicamente um com o outro. E não sabiam por quanto tempo. Olharam nos olhos um do outro e decidiram, silenciosamente, que não se podiam despedir assim. Então, tomados pelo desejo e pela luxúria, uniram os seus corpos num só, sentindo a urgência do momento. Desta vez, foi sexo puro. Uma corrida para ver quem chegava primeiro à meta. Ela ganhou a corrida estrondosamente e, tomada pela tesão, deleitou-se com o pau dele, firme e suplicante pela boca dela, até ao orgasmo final.

Desabafo

Em menos de um ano, dois rapazes da minha idade, com quem cresci, morreram. Estamos a falar de pessoas que nem 40 anos têm. Um deles deixou a mulher, um filho pequeno e um bebé. Mais o choque junto da família e amigos. O outro deixa "apenas" os pais devastados e um vazio enorme junto da restante família e amigos.


 


Neste momento não estou perdido, mas estou muito preocupado. Não necessariamente pela minha saúde, porque essa estou consciente de como está, mas sim pelo desenrolar dos acontecimentos. Ver as pessoas da minha criação a desaparecerem, sejam mais próximas ou menos, ainda antes dos 40 anos, é algo que não me parece normal. Que não faz sentido. Ver pais a enterrarem filhos, para mim, é contra-natura.


 


Ver malta que está na flor da idade, em pleno Século XXI, a cair desta forma que nem fruta madura, não pode ser normal. Nem desejável. Nem algo a que me vá habituar, seja hoje, daqui a um ano ou quando for velhinho.